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domingo, 7 de maio de 2023

Os Nàgô e a Morte, de Juana Elbein dos Santos

 



Livro que requer um prévio conhecimento sobre os orixás, não necessariamente sobre as religiões de matrizes africanas. Mas se tiver, é melhor para não se perder nas palavras.
A linguagem é difícil e robuscada, porque foi tema de doutorado da autora, então justifica-se a densidade da obra.

Abaixo eu coloquei um resumo do que eu achei mais interessante.

I – INTRODUÇÃO
Se propõe a falar sobre a morte, instituições, mecanismos e rituais
A pesquisa está orientada a focalizar:
a) a nível fatual: inclui os componentes da realidade empírica, isto é, a descrição mais exata possível do acontecer ritual, de seus aspectos e elementos constitutivos.
b) o da revisão crítica: trata-se, nesse caso, da desmistificação de ideologias importadas ou superpostas.
c) o da interpretação: se elabora a perspectiva “ de dentro para fora”; isto é, a análise da natureza e do significado do material fatual.
Os três níveis relacionam-se e constituem instrumentos intermutáveis de uma técnica qualificada de “iniciática”.

II – O COMPLEXO CULTURAL NAGÔ 
Oyó, a capital do reino yorubá;
Os Ketua implantaram com maior intensidade sua cultura na Bahia;
Grupos provenientes do sul e do centro de Daomé e do sudoeste da Nigéria, são de uma região que se chama Yorubá; no Brasil, Nagô.

III – SISTEMA DINÂMICO
Axé: força que assegura a existência dinâmica que permite o acontecer e o devir. Sem axé, a vida estaria paralisada, desprovida de toda possibilidade de realização. É o princípio que torna possível o processo vital.
Pode diminuir ou aumentar através das atividades e conduta dos rituais;
Pode ser agrupado em três categorias:
1) Sangue vermelho: 
Reino animal: corrimento menstrual, sangue humano ou animal;
Reino vegetal: azeite de dendê, mel, sangue das flores;
Reino mineral: cobre, bronze.
2) Sangue branco:
Reino animal: sêmen, saliva, hálito, secreções, plasma;
Reino vegetal: seiva, sumo, álcool e as bebidas brancas extraídas das palmeiras e de alguns vegetais, manteiga vegetal;
Reino mineral: sais, giz, prata, chumbo.
3) Sangue preto
Reino animal: cinzas de animais;
Reino vegetal: o sumo escuro de certos vegetais;
Reino mineral: carvão, ferro.
O axé de um terreiro, é um poder de realização, transmitido através de uma combinação particular, que contém representações materiais e simbólicas de branco, vermelho e preto, do aiyé e do orum.

IV – SISTEMA RELIGIOSO E CONCEPÇÃO DO MUNDO: AYÉ E ORUM
Aiyé: universo físico concreto e a vida de todos os seus naturais que o habitam: humanidade.
Orum: espaço sobrenatural, o outro mundo, vastidão ilimitada. Habitado por seres ou entidades sobrenaturais.
Mundo paralelo ao mundo real que coexiste com todos os conteúdos deste. Cada indivíduo, cada árvore, animal, cidade, possui um duplo espiritual e abstrato no orum. Ou, ao contrário, tudo o que existe no orum tem suas representações no aiyé.
A lama, matéria prima, e os três elementos signos que simbolizam os três sangues – branco, vermelho e preto – contidos no IG-BÉ-DU, estão representando igualmente a complementaridade dos três princípios ou forças que constituem o universo e tudo o que existe.

Iwá: princípio da existência;
Axé: princípio da realização;
Àba: princípio que induz, que permite as coisas de terem orientação, de terem direção ou objetivo em um sentido preciso.

V – O SISTEMA RELIGIOSO E AS ENTIDADES SOBRENATURAIS: OLORUM E OS IRUNMALÈ
Olorum, o rei do Orum, é o detentor dos três poderes/forças, tanto no aiyé quanto no orum.
Irunmale (lado direito): entidades divinas cuja existência remonta aos primórdios do universo.
Igba-iwá-sè: nos tempos em que a existência se originou e cujos axé e domínio de ação foram transmitidos por Olorum.
Irunmale (lado esquerdo): ancestrais, espíritos de seres humanos.
Obatalá ou Oxalá: elemento fundamental do começo dos começos; deu origem as novas formas de existência, à protoforma e à formação de todos os tipos de criaturas no aiyé e no orum.
Funfum: entidades que manipulam e dominam a formação dos seres deste mundo – os ará aiyé -  e dos seres do além.
Iwin: espíritos que residem em algumas árvores sagradas. Estas são paramentadas com uma tira de pano branco.
Iròkò: árvore proeminente entre todas as outras.
As árvores estão associadas a igba iwá sè – o tempo quando a existência sobreveio.
Olori-egum: o cabeça das ancestrais masculinos.
Branco: representa a criação, nascimento de seres naturais, a relação com os ancestrais, a existência genérica no aiyé e orum e constitui um dos três elementos que participam na formação de tudo o que existe; a passagem, transformação, a morte e o nascimento simbólicos ou rituais.
Eborá: espíritos que vivem nas florestas.
Egungum: alma dos antepassados, os irunmolé.
Odudua: orixá que criou a terra e os seres vivos.
Oxum: patrona da gravidez, está ligada ao corrimento menstrual ao sangue vermelho.
Ossain: patrono da vegetação, das folhas e de seus preparados. O “sangue” das folhas, que traz em si o poder do que nasce, pode ser múltipla e utilizada para diversos fins. Cada folha possui virtudes que lhe são próprias e misturadas a outras, foram preparações medicinais ou mágicas de grande importância nos cultos, onde nada pode ser feito sem o uso das folhas. É um dos axés mais poderosos, em combinações apropriadas, simbolizam qualquer ação ou ritual.

VI – O SISTEMA RELIGIOSO E AS ENTIDADES SOBRENATURAIS: OS ANCESTRAIS 
Pertencem a categoria diferentes: os orixás (entidades divinas), estão associados à estrutura da natureza, do cosmo; os ancestrais (espíritos dos seres humanos), à estrutura da sociedade.

Orixás:
Representam um valor e força universal;
Interiorizam no ser humano, elementos da natureza e sua pertença a uma ordem cósmica;
Regulam as relações do sistema como totalidade.

Eguns:
Representam um valor restrito a um grupo familiar ou a uma linhagem;
Interiorizam a sua pertença a uma estrutura social limitada;
Regulam as relações, a ética, a disciplina moral de um grupo ou de um segmento.
Assentado: significa sentados; derivado do termo assento – idi – representação simbólica e lugar de veneração de toda entidade sobrenatural. “Assentar”, significa plantar e consagrar o “assento” e “assentado” e o seu particípio passado: estar “assentado”, estar plantado, consagrado.

Casas que cultuam Egun no Brasil: só existem duas atualmente.
Ilé – Agboula: ilha de Taparica (mais antigo)
Ilé – Oyá: (mais novo)

Culto a Egungum
Objeto primordial consiste em tornar visíveis os espíritos ancestrais, manipular o poder que emana deles e em atuar como veículo entre os vivos e os mortos;
Mantém estrito controle das relações entre vivos e mortos;
É em um espaço chamado de Igbale que os Ojè invocam os eguns.

VII – PRINCÍPIO DINÂMICO E PRINCÍPIO DA EXISTÊNCIA INDIVIDUALIZADA NO SISTEMA NAGÔ 
Exu é um elemento constitutivo, na realidade, o elemento dinâmico, não só de todos os seus sobrenaturais, como também de tudo o que existe.
Cada ser humano tem o seu próprio exu.

VIII – O TERCEIRO ELEMENTO E OS RITOS PRIORITÁRIOS 
1º rito prioritário: Radé, significa reunião.
Celebrado no início das cerimônias públicas e com derramamento de sangue de um quadrúpede ou seu equivalente.
Só podem assistir as pessoas pertencentes ao terreiro ou visitantes de qualidade excepcional.